Pressões comerciais preterindo a segurança

Nosso colaborador informou o CHIRP sobre os requisitos contratuais para uma operação recente envolvendo um Offshore Supply Vessel (OSV) e um Floating Production Storage and Offloading vessel (FPSO).

O OSV era um navio DP 1 e não exigia uma função de “follow target” para operações normais. No entanto, dado o movimento do FPSO no ambiente operacional, usar a função era um requisito contratual.

De acordo com o contrato entre o contratante e o fretador, o contratante tinha que equipar o navio com dois sistemas de referência: um Differential Global Navigational Satellite System (DGNSS) e um sistema de laser ou micro-ondas capaz de funcionalidade “follow target”. Esses sistemas são essenciais para operações de FPSO. Eles garantem que uma distância específica seja mantida entre o navio e o FPSO e ajustam o ângulo entre seus eixos longitudinais para corresponder a qualquer rotação horizontal do FPSO.

Sob pressão do cronograma do cliente, o comandante prosseguiu com a operação, apesar de seu navio não ter a função “follow target” necessária. Essa decisão levou a condições potencialmente inseguras, exigindo que a tripulação ajustasse manualmente a posição da embarcação em relação às referências visuais para uma transferência de óleo combustível de 12 horas. A Pessoa Designada em Terra (DPA) alertou contra a operação em tais circunstâncias precárias, mas o comandante continuou mesmo assim. A tripulação percebeu que a segurança estava sendo comprometida para atender às demandas do cliente e relatou isso ao CHIRP.

O contrato entre o contratante e o fretador estipulou requisitos técnicos específicos para o OSV, incluindo ter uma função “follow target” e ser capaz de lidar com as velocidades de movimento esperadas do FPSO, que podem ser consideráveis. Esta função é crucial para manter uma distância segura e o alinhamento com o FPSO. O OSV em questão estava equipado apenas com um sistema DP 1 (Classe 1 de Posicionamento Dinâmico), que normalmente não inclui uma capacidade “follow target”. Esta discrepância significava que o OSV não atendia aos requisitos contratuais necessários para operações seguras com o FPSO.

Apesar de não atender a esses requisitos, o comandate do OSV prosseguiu com a operação sob pressão do cronograma do cliente. Esta decisão levou a condições potencialmente inseguras porque a embarcação não tinha a capacidade automatizada para manter proximidade segura e alinhamento com o FPSO. A tripulação reconheceu as condições de segurança comprometidas durante a operação, particularmente durante uma transferência crítica de óleo combustível de mais de 12 horas. Eles recorreram a ajustes manuais baseados em referências visuais e de radar, que são menos precisos e mais propensos a erros em comparação a sistemas automatizados como o “follow target”.

A conscientização da tripulação sobre a segurança comprometida e sua decisão de relatar isso ao CHIRP indica uma abordagem responsável para relatos de segurança e uma compreensão dos riscos potenciais envolvidos. A Pessoa Designada em Terra (DPA), que é responsável por garantir a conformidade com os padrões de segurança e ambientais, garantir que recursos adequados sejam aplicados e fornecer um elo vital entre a embarcação e a empresa, alertou contra o prosseguimento, uma vez que a função “follow target” era necessária. Essa cautela da DPA ressalta a seriedade das preocupações com a segurança. Apesar desse conselho explícito, o comandante prosseguiu com a operação, desconsiderando as recomendações da DPA. Essa decisão não apenas aumentou o risco envolvido, mas também colocou em xeque a cultura de segurança e a estrutura organizacional da empresa. A escolha do comandante por ignorar o conselho da DPA levanta preocupações significativas sobre a priorização da segurança dentro da empresa e destaca possíveis falhas em suas práticas de gerenciamento de risco e comunicação.

Nos últimos anos, vários abalroamentos ocorreram a bordo de embarcações em operações de DP perto de ativos móveis, como embarcações de perfuração e FPSOs. Ao ter um sistema de referência de posição relativa instalado, como a função “follow target”, o treinamento sobre seu uso é essencial.

O CHIRP gostaria de reconhecer a nota informativa fornecida pela International Maritime Contractors Association (IMCA) No 1650- novembro de 2023, que detalha as considerações importantes dos Sistemas de Referência de Posição (PRS) ao operar perto de um ativo que não está rigidamente fixado ao fundo do mar.

Pressão — A pressão para atingir objetivos comerciais anulou as considerações de segurança relacionadas à tripulação, ao FPSO e ao meio ambiente. O que você faria na mesma situação, dada a solicitação da DPA para interromper a operação devido à falta de segurança?

 Trabalho em equipe — O comportamento do comandante não indica trabalho em equipe. O comandante está agindo sozinho, e a tripulação não parece ter poderes para exercer procedimentos de “parar o trabalho”. O que você teria feito nessa situação?

 Cultura — A cultura da empresa se aplica a todos, e o comandante tem a responsabilidade de demonstrar a cultura da empresa por meio de ações.

 Capacidade — Você operaria fora dos requisitos se sua embarcação não tivesse capacidade para atender aos padrões de posicionamento dinâmico? Nesse caso, os padrões de segurança de DP estão sendo desconsiderados?

 Práticas locais — Evite que as práticas locais se tornem um novo padrão. Peça à empresa para instalar o equipamento necessário para atender aos requisitos de conformidade.

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